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sexta-feira, novembro 18, 2005

Mais celebridades 

Boletim das Terras da Rainha

Mais algumas celebridades foram adicionadas a lista daquelas que encontrei durante minhas pedaladas pelas ruas de Londres: Sigourney Weaver, Rod Stewart e uma de peso Ed Motta!

Uma coincidência ocorreu quanto aos dois primeiros, ambos foram vistos saindo do mesmo teatro em dias consecutivos. Tratava-se do musical em cartas no Prince Edward Theatre, Mary Poppins.

Já o músico brasileiro veio à Londres para produzir a banda européia, Jazzinho, e meu encontro com ele aconteceu nas portas da famosa casa de jazz, Ronnie Scotts. Confesso que até passou me pela cabeça oferecer lhe uma viagem grátis, mas na ocasião estava hospedado em um hotel longe de onde estávamos e diga-se de passagem, ele não é exatamente pequeno para tanto.


Ed Mota em Londres.

sexta-feira, setembro 02, 2005

Aniversário 

Boletim das Terras da Rainha

Pois é, uma das vantagens de se comemorar a chegada da maturidade, longe de quem se gosta, é abrir a caixa postal e se emocionar com o que se segue!!!
Eu vi
Num tempo distante,
um lindo menino, risada sonora,
crescendo aloirado, tão cheio de vida,
jogando pelada, o rosto vermelho,
atesta suada, o joelho esfolado...

Eu vi
O tempo correndo no vento da vida...
empinando seus sonhos nas folhas dos livros,
no rosto fechado, os medos contidos,
no jeito calado, um mundo explodindo,
de angustia e revolta na injusta corrida.

Eu vi
Num dia insencível, tão quieto, tão frio,
num ronco distante, no espaço azulado,
o peito apertado, o menino partiu.
Na pouca bagagem, uma grande esperança
em busca do mundo, do sonho, da vida...

Eu vejo
Nas letras de hoje, o homem que luta,
que sonha, que espera, no grito que cala,
a busca anciada, a razão do ser tudo
e ainda se acanha de amar simplesmente...

Eu verei,
com certeza verei este tempo passar...
em breve o gigante que ainda se forma,
explodindo em beleza, alegrias e vitórias,
meu neto querido, onde quer que ele vá...

Eu verei
pois eu sei que ele chega... ele há de chegar! ! !
Feliz Aniversário! Não podendo abraçá-lo lhe envio meu coração.
Com muitos beijos de sua avó, Diva, em 2 de Setembro de 2005.

________________

Vó, obrigado por todo carinho, pela homenagem e pelo belíssimo presente!!!

terça-feira, agosto 16, 2005

Reencontro com meus pais 

Boletim das Terras da Rainha

Londres não só revelou-se um universo cultural inimaginável à mim como também o foi uma pausa importante para a auto-reflexão. Aqui, não mais no habitual mundo contidiano em que estava inserido, longe de tudo e de todos, encontrei me num cárcere interior...

Ao desembarcar nestas terras não era mais biólogo, tal qualificação profissional não era válida por aqui. Não podia mais contar com o apoio de meus bons amigos, uma nova rede de relacionamentos levaria algum tempo até se formar. Mas principalmente, não mais tinha uma família, e assim, fiquei sem referência de mim mesmo.

Durante a minha adolescência, em busca de uma identidade, vi a hostilidade entrar em minha casa e tornar-se quase uma regra na relação pais/filho. Aos poucos o diálogo entre as partes tornou-se repleto de tensão e acumalaram-se mágoas de ambas as partes.

Este foi o sentimento que herdei do processo de formação de minha personalidade para ingresso na vida adulta.

Em Londres, submetido à condições diferentes, sendo obrigado a conviver, trabalhar e morar com gente estranha passei a reavaliar os meus conceitos no que diz respeito aos meus pais. Passei a dar valor para esta relação e enxergar que as soluções eram simples, mas jamais havia lhes dado a respectiva chance.


Tower Bridge.

Hoje, ao despedir me de meus pais no aeroporto, pela primeira vez enxerguei-os diferentemente. Foi como tê-los reencontrado para o início de uma nova fase desse relacionamento que fora selado pelas lágrimas da despedida.

Alguma coisa mudou no silêncio destes últimos cinco minutos em que estivemos juntos e que esteve presente na cumplicidade dos olhares!

O isolamento e a distância moldaram aquele antigo sentimento amargo. Guardo comigo a doce memória de ir "trabalhar" com meu pai e fazer a tradicional sesta com minha mãe após o almoço, durante a minha tenra infância!

Pais e Filhos
(Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá)

Estátuas e cofres e paredes pintadas
Ninguém sabe o que acoteceu
Ela se jogou da janela do quinto andar
Nada é fácil de entender
Dorme agora é só o vento lá fora
Quero colo vou fugir de casa
Posso dormir aqui com vocês?
Estou com medo tive um pesadelo
Só vou voltar depois das três
Meu filho vai ter nome de santo
Quero o nome mais bonito
É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã
Porque se você parar pra pensar
Na verdade não há
Me diz: porque que o céu é azul?
Me explica a grande fúria do mundo
São meus filhos que tomam conta de mim
Eu moro com a minha mãe mas o meu pai vem me visitar
Eu moro na rua não tenho ninguém
Eu moro em qualquer lugar
Já morei em tanta casa que nem me lembro mais
Eu moro com meus pais
É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã
Porque se você parar pra pensar
Na verdade não há
Sou uma gota d'água, sou um grão de areia
Você diz que seus pais não entendem
Mas você não entende seus pais
Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo
São crianças como você
O que você vai ser quando você crescer

sábado, julho 30, 2005

Gerência 

Boletim das Terras da Rainha

Há quase um ano pedalando, para ganhar a vida, pelas ruas de Londres tive a oportunidade de enxergar esta gigante metrópole por outra perspectiva: a de quem faz parte deste pulsar excitado que é o coração da cidade. A cada nova pedalada sinto me em sintonia com a atmosfera urbana. Movendo me velozmente pelas avenidas é como impor o ritmo tipicamente acelerado deste centro tecnoindustrial.

De pedalada em pedalada, fui aprendendo como a cidade funciona. De suor a suor, descobrindo novos lugares e compreendendo melhor como esta reage. Por passar longo tempo nas ruas alguns hábitos come
çam a surgir e inevitavelmente nosso comportamento muda. O que antes poderia ser classificado como barulho, sujeira e/ou confusão passa a ser genuinamente belo e admirado!

Ser um rickshaw rider em Londres é tudo isso! É muito mais do que um meio de ganhar dinheiro. É uma forma de interagir com este caos organizado de concreto e metal.

Para garantir que todas as rickshaws continuem circulando pela cidade e alimentando essa rela
ção com a metrópole, a companhia em que trabalho oferece um suporte técnico a todos os riders. Toda vez que uma rickshaw quebra um dos gerentes é acionado para resolver o problema.

Pois bem, recentemente ingressei neste time e começo agora a desenvolver o gosto pela mecânica e pela graxa nas mãos! Além de consertar as rickshaws faço todo o controle daquelas que estão saindo e voltando à base. Aos que querem pedalar, agendo-as e recebo o dinheiro referente a tanto. Nos dias em que estou gerenciando sou o último a sair, fechando a base ao amanhecer.


Gerenciando: Bugbugs - London

A indicação à gerência foi de fato uma surpresa. Quando iniciei nisso mal falava inglês e em pouco tempo fui promovido a gerente! É um motivo a mais para continuar pedalando e por que n
ão atar essa conexão com a cidade?


Rickshaws

quinta-feira, julho 07, 2005

Atentado em Londres 

Boletim das Terras da Rainha

Tudo é uma questão de óxido-redução exotérmica. Uma reação química altamente energética é iniciada e repentinamente um maciço deslocamento de ar em cadeia se segue a combustão sagrada, aquela que irá purificar o mundo dos ditos "infiéis".

Com a mesma violência destrutiva com que uma bomba pulveriza tudo ao seu redor, hoje as bases da sociedade britânica foram abaladas com uma série de atentados terroristas. Apesar de todo o sistema de segurança preventivo, os responsáveis por tais atos conseguiram causar o caos nas primeiras horas desta quinta-feira negra.

O que até então era apenas um temor agora é fato consumado: a Inglaterra conhece a fúria de grupos extremistas!

Não é por acaso que as explosões coordenadas tenham acontecido justamente por ocasião do G8, em que as nações mais ricas do mundo se reúnem na Escócia para discutir questões referentes ao desenvolvimento econômico-social e às mudanças climáticas. O recado foi dado aos líderes mundiais sob uma forma estupidamente brutal!

Neste jogo de interesses que já custou a vida de 37 pessoas e deixou centenas de outras tantas feridas na capital inglesa, fica evidente que o suposto "terrorismo" não pode ser combatido com intolerância e xenofobismo mútuos.

Quanto a mim, estive na noite anterior nos locais em que explodiram a segunda e a quarta bombas. Foi questão de horas!

A exemplo do que acontecera recentemente nos Estados Unidos e na Espanha, por exemplo, não creio que voltem a se repetir novos atentados terroristas em solo inglês. Os ataques seguem um mesmo padrão e os próximos alvos devem mesmo ser a Dinamarca e a Itália.

Ainda é cedo para se analisar os estragos, mas ainda assim não aparentam ser demasiado grande frente ao potencial destrutivo deste tipo de ações.


Grã-Bretanha assiste ao ataque a capital
inglesa em atentado terrorista.



Explosão devasta ônibus em Tavistock Square.

A series of explosions has ripped across central London, killing at least 37 people and injuring many hundreds more. In what appears to have been a co-ordinated terrorist attack, there were blasts on three Underground trains and a bus, as the morning rush hour drew to a close.

The capital's public transport system was halted and a high-level emergency procedure swung into action. All hospitals were full by mid-morning.

The first explosion happened on an Underground train just outside the busy Liverpool Street station. Further blasts hit a train heading from Russell Square station to King's Cross and another at Edgware Road station. The final explosion was on a double-decker bus.


Regiões afetadas com as explosões.

Liverpool Street
08:51 Emergency services were first called after an explosion on a Tube train 100 metres (yards) from Liverpool Street station. London Underground later confirmed the blast was on a Circle line train travelling from Aldgate station to Liverpool Street.

Passenger Simon Tonkyn told of an "enormous bang and a lot of smoke". He added: "A group of us got fire extinguishers and were able to smash through the carriage door." Another man, Terry O'Shea, said passengers were led down the track past the carriage where the explosion was. "We could see the roof was torn off it, and there were bodies on the track."

Passengers were rushed out of Liverpool Street station by police and Underground staff. Mobile phones stopped working, leaving people unable to contact relatives and friends.

City of London police say that seven people have died in the blast. More than 100 have been wounded, at least 10 seriously.

Russell Square - King's Cross
08:56 The second explosion was on the Piccadilly line on a Tube train travelling between Russell Square and King's Cross.

BBC News reporter Jacqui Head, who was on the train, told of a "massive bang" and added: "There was immediately smoke everywhere and it was very hot and everybody panicked. People started screaming and crying." Another passenger, Chris Fry, said that people smashed windows to get out of their carriage and started walking down the side of the train.

Makeshift mortuaries were set up at the Royal National Hotel and the Holiday Inn. Twenty-one people are later confirmed dead.

Anna Pacey, a nurse treating people at Russell Square, said the first people who emerged were "walking wounded" but she later saw people with more serious injuries - burns, broken bones and some who had lost limbs.

Edgware Road
09:17 The third blast was on a Circle line Underground train, just leaving Edgware Road station for Paddington.

After the blast passengers began emerging from the underground station, many covered in blood and clearly distraught. Paramedics went inside, prompting fears there may still be injured people trapped underground.

A woman passenger told the BBC there was a huge bang as two trains passed in a tunnel just outside Edgware Road. "All the lights went out and there was a lot of smoke." It later emerged that the explosion on the train blew through a wall and hit another train - or possibly two - on an adjoining platform.

Police have confirmed that seven people are dead.

Tavistock Square/ Upper Woburn Place

09:47A blast ripped through a double-decker bus outside the British Medical Association. The bus's roof was torn off and nearby cars were also damaged. Two people were later confirmed dead and it is feared the number may still rise.

One eyewitness described the bus as ripped to shreds - the result "carnage". "It was a massive explosion and there were papers and half a bus flying through the air", said another.

Police do not rule out the possibility it was the work of a suicide bomber.

A Transport for London spokeswoman said the bus was a number 30, travelling from Hackney to Marble Arch. It was following a diversion from its normal route.

Chaotic scenes dominated the area all morning as injured people emerged from the Russell Square Underground station after a blast between there and King's Cross station.

Fonte BBC
www.bbc.co.uk

A principal vítima nestas relações ainda é a vida, esta pequena, frágil e inocente criança que devemos zelar e proteger como um bem maior!

sábado, junho 11, 2005

Pelado em Londres 

Boletim das Terras da Rainha

Recordo me de estar na casa de minha avó paterna, Virgínia, abrindo uma janela para um momento no passado que sequer vivi, através de uma página já amarelada pela ação do tempo. Naquele momento desejei ser mais velho do que meus então quinze anos para poder ter experenciado a primeira "xispada" de Piracicaba, noticiada por um jornal local.

Trata se de uma espécie de brincadeira comum entre os universitários em que se aventuram correndo nus madrugada a fora pelas ruas da cidade. Xispada! Fiquei com aquela idéia na cabeça e um desejo depravado de fazer algo do gênero algum dia.

Pois bem, o tempo passou e em minha universidade nunca soube de qualquer tipo de manifestação semelhante. No entanto, fui encontrar a oportunidade aqui, nas ruas de Londres! Fui apresentado à ela por um ativista de um grupo que se opõe a dependência de petróleo na sociedade moderna. Como forma de protesto, estava programado um passeio ciclístico nu pelas ruas centrais da capital inglesa. No roteiro, era previsto passar pela residência oficial do primeiro ministro Toni Blair, as Casas do Parlamento e a Embaixada Americana!

O motivo em si do protesto era um tanto tolo, mas a chance que tanto havia aguardado estava aí. Se tive coragem para tal feito? A resposta vem logo abaixo...


World Naked Bike Ride - London 2005 Posted by Picasa

Quanto a polícia, haviam reconhecido o direito ao protesto e em momento algum se opuseram a tanto. Muitos deles inclusive aplaudiram a iniciativa!

Durante as duas horas em que durou o evento a cidade parou! Pessoas saiam às janelas para ver o que estava acontecendo, as calçadas se povoaram e a aglomeração de gente se estendeu ao longo de todo o trajeto, para acompanhar de perto este protesto que reuniu cerca de cem ciclístas nus.

As reações do povo foram as mais diversas possíveis. Houve quem ficasse chocado, quem achasse graça, quem se envergonhasse e ocultasse os olhos dos filhos, quem apoiasse ou quem simplesmente achasse banal.

Diante de milhares de faces curiosas e de câmeras fotográficas direcionadas a mim, me senti bem a vontade. O clima estava agradável para tal sorte de passeio e a sensação de liberdade que senti foi de um raro deleite!

Por diversos momentos quase me esqueci de que estava sem roupa. E ao contrário do que pensava que pudesse acontecer, despir me de toda a timidade e acanhamento frente a pessoas estranhas não foi um problema.

Mal posso aguardar pelo próximo ano para repetir a dose!

Bem, o que aquele recorte de jornal estava fazendo na casa de minha avó eu não sei, mas deve ser coisa de família. Meu pai ou então um de meus tios deve ter algo à explicar!
_______________________________________

Adicionais fotografias do evento estão disponíveis em meu outro domínio público, no MSN Spaces. Clique aqui para acessá-lo.

quinta-feira, março 03, 2005

Soho Hollywood 

Boletim das Terras da Rainha

Nos dois úlimos finais de semana do musical One flew over the cuckoo's nest tive em minha rickshaw um passageiro incomum. Trata-se de Christian Slater, o protagonista principal desta peça. Já tinha o visto nas ruas do Soho, mas até então nunca tivera oportunidade de pegar uma corrida com ele. Havia uma espécie de competição entre os rickshaw riders para ver quem seria o próximo a pegá-lo, já que era famoso por sempre utilizar tal forma de transporte pelas ruas de Londres.

Tive sorte por duas vezes e posso dizer, de fato, que ele é generoso! Um tanto esquisito também, uma vez que dera tapinhas em minha bunda enquanto pedalava... O melhor mesmo foi a minha resposta: "Se tu continuar com isso nunca mais assisto nenhum trabalho seu!"

Para completar este quadro de encontros hollywoodianos ainda ontem, também no Soho, vi passar por mim Fernando Meirelles, diretor do filme Cidade de Deus. Ele veio à Londres para um workshop de cinema, técnicas teatrais, música e dança promovido pela casa noturna brasileira Guanabara.

Não estou inventando história e como não acredito em Deus, juro por Charles Darwin, pai da biologia moderna, que é verdade!

domingo, outubro 31, 2004

Questão de Princípios 

Boletim das Terras da Rainha

Não posso simplesmente ficar calado e omisso frente ao testemunhado aqui em terras longínquas de minha pátria. Há gente que insiste em cuspir em nossa bandeira, desonrar nosso povo, levantar suspeitas entre nossa gente trazendo para terras estrangeiras o estelionato maquiado com boas intenções.

Trata-se de uma seita religiosa cujo símbolo é uma pomba em meio a um coração. Para minha surpresa essa quadrilha de criminosos, que atende pelo nome de Igreja Universal do Reino de Deus, age também no Reino Unido e tem a cara-de-pau de recolher donativos para fundos sociais!

Pelo visto investir no mercado estrangeiro foi um bom negócio para essa empresa que vende às almas a salvação e o conforto espiritual do paraíso!

Pegando uma carano nas eleições municipais lanço a seguinte questão:

A quem você destinaria a sua doação...
VS
...ao vagabundo honesto ou ao curandeiro charlatão?


sexta-feira, outubro 01, 2004

De endereço novo 

Boletim das Terras da Rainha

Após sentir me mais seguro com a língua inglesa e dominar os princípios básicos de como trabalhar com rickshaw chegou a hora de uma experiência até então inédita em minha vida: morar sozinho.

Na realidade não é bem sozinho, já que passo a dividir um apartamento com mais cinco pessoas, mas a partir de agora adquiro uma certa autonomia, sendo agora o único responsável pela minha própria vida.

Este é um marco que determina meu ingresso na vida adulta. Uma transição que encaro com um pouco de receio, assim como nas experiências anteriores.

O mesmo ocorreu quando enfrentei, com um medo infantil, minha primeira sala de aula. Foi assim também, quando tive medo de fracassar, ao fazer minha primeira prova na universidade. Ou ainda, quando tive de controlar minhas expectativas ao mesmo tempo em que, com pouca habilidade, pressionava os pedais, engatava a marcha e vigiava o retrovisor para arrancar com o carro pela primeira vez. Ir ao colégio e não ter o zelo e a segurança de estar junto aos meus pais...

As novas experiências sempre foram marcadas de receios, pelo desconhecido em si, e pela eminencia do insucesso.

No entanto nesta nova etapa tenho muito mais segurança no que já vivenciei do que do que não vi!

Chegou a hora de colocar a criança que tem medo de ficar sozinha para dormir para o despertar de um homem obstinado em busca de seu futuro!

Essa história tem início aqui:

10 Lynton Estate
Lynton Road
SE1 5QU
London - England


sábado, agosto 28, 2004

Beijado pela cidade 

Boletim das Terras da Rainha

A noite de Londres tem vida própria! Esta cidade funciona como um ser animado, cíclico, orgânico. Pelas ruas, praças públicas e avenidas pessoas circulam trazendo calor, produzindo sons que ecoam frente a edifícios imponentes. Luzes publicitárias ou que promovem eventos atestam que as atividades urbanas não cessarão tão cedo.

É o bêbado que apenas procura alguém para conversar, o músico solitário e artistas anônimos (e por vezes nem tanto!) que tentam garantir o sustento familiar, passeatas de grupos religiosos e ativistas políticos que fazem deste meio uma forma de livre expressão.

Em que outro lugar do mundo se pode ver tanta diversidade e pouca unidade? Londres é tudo isso!

Trabalhar nas ruas tem essas vantagens, pode-se entender um pouco melhor o que se passa enquanto a cidade insiste em não dormir. Por vezes parece que não somos bem recebidos nela, devido a tanta hostilidade, mas por outro lado tenho que admitir que também há ocasiões em que nos convida para uma noite de amor...

Não são raras as ocasiões em que recebo propostas de passar a noite com algumas das eventuais clientes que estiveram na rickshaw comigo. Em especial destaco a primeira experiência de tal gênero.

Uma prática bastante comum aqui são as festas de despedida de solteiro que ocorrem principalmente na região chamada West End, o buxixo de Londres. Aos homens a regra são os clubes de streaptease, já às mulheres a coisa muda um pouco de figura. Elas podem simplesmente desfilar, fantasiadas, seu futuro estado civil alugando uma limosine ou mesmo um ônibus, desses de transporte coletivo público, e transformá-lo em uma boate particular etinerante, com direito a música e iluminação própria!

Pois bem, parte desta festa é promovida pelas amigas da noiva em questão que propõem um desafio a ela. Em um deles eu estive incluído.

Aconteceu em uma noite de sábado, logo quando iniciei neste trabalho. Neste dia encontrei uma gravata em ótimo estado na rua, fiz o nó, e desde então, virou acessório de trabalho. Alguns minutos depois, um colega de profissão presenteou me com um chapéu marroquino. Tudo para atrair a atenção dos clientes!

Além do chapéu marroquino, da gravata séria, ainda vestia aquela camiseta, que todos já me viram usando, dos três patetas. Trajado desta maneira era o próprio quarto integrante da trupe!

Foi então que, as pressas, correndo até mim, veio uma guria de uns 23 anos, estatura mediana... parou em frente de minha rickshaw ...cabelos castanhos claros... recuperando o fôlego ...lisos e longos até os ombros... disse que iria se casar em duas semanas e que aquela noite era sua despedida de solteira ...com olhos amendoados... e que tinha um desafio: me beijar! ...cheirosa e com uma boca sensual e com um gosto delicioso!!!

Olha só o local aonde isso aconteceu, na junção da Upper St. Martins com a St. Martins Lane!

Ela foi só a primeira inglesa que beijei!

Definitivamente as noites de Londres são repletas de vida e paixão!


sábado, agosto 14, 2004

At last!!! 

Boletim das Terras da Rainha

Por fim consegui o que queria, tenho minha própria rickshaw. Não estou pedalando para o palhaço do colombiano que me barrou por conta de documentação, mas sim para a melhor e mais profissional das companhias: a Bugbugs!!!

O excesso de receio de que o pior pudesse acontecer só atrasou a minha vida aqui nas terras da rainha. Já poderia ter começado a trabalhar a mais tempo não fosse tanta cautela. Estive preocupado à toa todo esse tempo. Na companhia para quem estou pedalando sequer pediram para ver o passaporte. Contentaram-se apenas com uma cópia das páginas iniciais sem a sessão do VISA, evidentemente, cuja qual apenas informei o número de série de meu documento.

Agora também sou um dos Bugs!!!

Em meu primeiro dia não tive uma experiência lá muito agradável. A começar que a rickshaw é dura de pedalar, por ser muito pesada por si só, e isso sem contar o fardo extra que é cada cliente!

Estava em minha terceira corrida, já refugando, quando me estoura a corrente da rickshaw!!! Fui obrigado a vir embora mais cedo...

Mas apesar do trabalho duro acho que vou gostar de ser um rider!!!


quarta-feira, agosto 04, 2004

Este mundo é mesmo muito, mas muuuito pequeno!!! 

Boletim das Terras da Rainha

Que bela surpresa o destino me reservou!!!

Hoje voltando do jantar de aniversário de minha prima, Ana Lúcia, fui surpreendido no ponto de ônibus por uma voz familiar chamando pelo meu nome... Era um de meus ex-alunos, ainda da época do extinto Colégio Batista de Campinas, e o seu irmão. Eles já estão morando aqui há mais de um ano.

Fiquei especialmente feliz em revê-los, e o motivo disso, é que pude perceber que parte de meu trabalho foi bem recebido entre meu público.

Um grande abraço aos irmãos Bruno e Renato!!!


sábado, julho 24, 2004

Quero a minha Caloi!!! 

Boletim das Terras da Rainha
 
Desde que cheguei aqui, nas terras da rainha, venho investindo na melhor forma de ganhar a vida para pessoas como eu, que não dispõe de autorização de trabalho em passaporte.

Trata-se de uma forma de transporte sob bicicletas bastante comum aos turistas do West End, a região do buxixo de Londres.

Para me tornar um rider precisaria primeiro fazer o reconhecimento da área em que iria atuar e conhecê-la muito bem. A região do West End em si nao é muito grande, restringe-se ao quadrilátero definido entre as vias Regent Street, Trafalgar Squaire, Strand, Aldwych, Kingsway e Oxford Street.

Um dos filões desta atividade são os teatros, pois bem, em Londres há 56 deles e a grande maioria está localizada no West End. Visitei um a um anotando o espetáculo que estava passando em cada um deles.

Já sei o que está passando em cada um dos teatros, conheço também as principais estações de metrô por onde as pessoas chegam ao West End e os lugares mais badalados, mas ainda não tenho o principal: o instrumento de trabalho.

Fui à várias companhias, mas a história é sempre a mesma... Por enquanto não há nenhuma bicicleta disponível. Ligue na semana que vem.

Neste período há muita gente querendo pedalar nas bicicletas. Tem até meninas fazendo isso!!! No verão as companhias ficam com uma imensa lista de interessados em alugar suas bicicletas.

A concorrencia é grande e por conta disso precisei de comprar um celular para deixar uma forma de contato com as companhias.

Depois de muito insistir, conversando com diversos riders descobri um colombiano que estava disposto a dividir a sua bicicleta. Marcamos de ir à garagem da companhia já no dia seguinte. Lá, recebi as orientações necessárias para utilizar corretamente a bicicleta, já haviamos combinado todos os detalhes de como a iríamos dividí-la e até mesmo a forma de pagamento. Já estava tudo certo quando pediram me o passaporte...

Fiquei sem meia bicicleta, já que sequer tinha uma inteira só para mim.

Para que tal situação não fosse recorrente o jeito foi matricular me em uma escola de idiomas. Assim, deixaria de ser um turista para tornar me um estudante, e então, adquirir o direito de trabalhar. Pelo menos em tese... já que não vou encaminhar o meu passaporte ao Home Office, o departamento de imigração, tão cedo.

Vamos ver se engolem essa!!!

Por hora não desisti e já anuncio: Ainda quero a minha Caloi!!!
 

terça-feira, julho 13, 2004

Os senhores dos ares 

Boletim das Terras da Rainha

Se os céus da Inglaterra possuem algum dono ele é o corvo. Esta grande ave está sempre à espreita, em algum ponto alto, e presente em todos os parques da cidade.

São agressivos, suas investidas contra outros pássaros lhes rendem recursos alimentares sem muito esforço. Os corvos nem sempre precisam "saquear" as demais aves. Apesar de terem hábito solitário, com freqüência são vistos forrageando nos gramados em número elevado.

Bem, mas a intenção não é fazer um compêndio de ornitologia e sim, relatar um caso que tive a oportunidade de presenciar em um parque, não muito distante do centro da cidade.

Próximo às margens de um lago havia um filhote de pato, já com penas novas, deslocando-se com certa dificuldade e desgarrado de seus irmãos e mãe que estavam mais adiante.

Era um filhote condenado a não sobreviver, já que não dispunha de todo o vigor e sua frágil vitalidade aparente passou a atrair a atenção de alguns corvos que agora o cercavam.

Os corvos se revesavam nas tentativas de capturar o filhote pelo bico e alçar vôo enquanto se esquivavam dos ataques da mãe.

Insistiram nesta estratégia durante um bom tempo, mas o filhote não era suficientemente leve para que o carregassem por uma grande distância.

No fim os corvos só não se esbaldaram com o banquete porque após várias de suas tentativas, o filhote de pato acabou caindo em uma porção do lago em que eles não eram capazes de entrar.

Melhor sorte na próxima vez!!!

Embora crows (Corvus sp.) e blackbirds (Turdus merula) não sejam a mesma coisa, estes últimos também são bem populares aqui, nas terras da rainha.

Blackbird
The Beatles

Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly
All your life
You were only waiting for this moment to arise.

Blackbird singing in the dead of night
Take these sunken eyes and learn to see
All your life
You were only waiting for this moment to be free.

Blackbird fly Blackbird fly
Into the light of the dark black night.

Blackbird fly Blackbird fly
Into the light of the dark black night.

Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly
All your life
You were only waiting for this moment to arise
You were only waiting for this moment to arise
You were only waiting for this moment to arise.

domingo, julho 11, 2004

Um mercado milenar 

Boletim das Terras da Rainha

Neste sábado fui ao mais antigo mercado de Londres, o Borough Market. Este tradicional mercado inglês é similar aos nossos mercados municipais, mas com o aspecto de uma feira livre.

Lá encontra-se de tudo, pães, peixes, frutas, verduras, legumes, azeite, ervas e temperos, geléias, carnes, vinhos, os mais diversos tipos de cogumelos entre outras coisas. Há também barracas com comidas típicas de diferentes países da europa.

Mas o que mais me chamou a atenção foi o suco de grama! Ele é feito com o broto de soja triturado na hora e servido em um pequeno copo, talvez um terço da medida de um copo americano.

Deste não provei, mas vi uma garrafa de águardente, a nossa Pirassununga 51, pela bagatela de £ 15,25. De todas as cachaças que produzimos esta de longe nem é a melhor.

Produto nacional apreciado no mercado externo!!!

Isso é o Brasil caindo nas graças do europeu!!!



quarta-feira, julho 07, 2004

Sinalização 

Boletim das Terras da Rainha

Andar pelas ruas de Londres não é uma tarefa simples, a cidade é muito mal sinalizada e suas vias muito parecidas umas com as outras. Mesmo de posse de um mapa em mãos, toda vez que preciso ir à algum lugar pedalando acabo me perdendo.

Diferentemente do Brasil, onde em toda esquina há uma placa azul, com o nome da rua e a numeração das casas daquele quarteirão, aqui não existe um padrão para tanto.

Para começar que ela não é fixa à nenhum poste e sim às paredes dos edifícios. Em algumas ruas a placa é exibida no alto, em outras bem próximas ao chão, mas o pior mesmo é quando ela está a alguns metros depois de dobrada a esquina.

Veja só o quão útil é tal informação depois que você já entrou na rua errada!!! E tudo isso porque ela não estava ali, na esquina...

Pensa o quê, isso é que é coisa de primeiro mundo!!!




segunda-feira, julho 05, 2004

Portas de entrada e Minis 

Boletim das Terras da Rainha

Tenho uma nova paixão aqui nas terras da rainha! Na realidade não é uma, mas duas: Minis e portas de entrada das casas inglesas.

Os Minis surgiram nos anos 60 na Inglaterra como um novo conceito dos carros compactos versáteis.



Modelos mais antigos foram usados no seriado do Mr. Bean, produzidos por Rowan Atkinson.


Quase sempre pintada com tonalidades sóbrias e vitrais muito bem trabalhados, a porta de entrada é um elemento que dá um toque especial na arquiteruara inglesa.




Entre e fique a vontade, a casa é sua!!!

sábado, julho 03, 2004

Moda 

Boletim das Terras da Rainha

Se moda é uma questão de comportamento as européias devem deixar as brasileiras no chinelo!

As roupas que no Brasil seriam, digamos assim, ousadas, aqui são pra lá de conservadoras. E olha que o verão desta ilha faz frio e venta muito!

As mulheres daqui gostam de exibir suas longas pernas até alguns palmos acima do joelho em saias que até parecem terem sido adquiridas na sessão de vestuário infantil.

O tipo da mulher européia é alta, de pele e cabelos claros, com pouca bunda e os pés... Hmmm que coisa horrorosa!!! ...com pés enormes!

Apesar deste não tão pequeno detalhe do biotipo da européia elas ainda assim são muito atraentes!



quarta-feira, junho 30, 2004

Os pássaros que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá... 

Boletim das Terras da Rainha

Você consegue conceber um banheiro sem o vaso sanitário? Pois os ingleses conseguem!!! Pode acreditar, aqui isso é comum.

Ah, mas os pássaros que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá...

Não é que não haja banheiro, mas simplesmente vaso sanitário e todo o resto não compartilham das mesmas dependências.

Faz-se necessário neste momento um esclarecimento, não me refiro ao lavabo e banheiro, que são coisas completamente distintas, mas à um cubículo com o vaso e mais nada e outro que se aproxima com aquilo que chamamos de banheiro.


Digo próximo porque o mesmo sequer tem um chuveiro!

Ah, mas minha terra tem primores, que tais não encontro eu cá...

Inglês no máximo tem um chuveirinho, daqueles de banheira mesmo para o seu shower. O resto, é quase como o nosso... Bem, mas ducha pra que se não tomam banho todos os dias?

Ah, mas a minha terra tem palmeiras onde canta o Sabiá...

Outra obra da engenharia inglesa é o encanamento, que primor!!!

Se tomar banho não pode lavar a louça, se lavar a roupa não toma o banho e se lavar a louça fica com a roupa suja.

Que beleza não?!


Canção do Exílio
Antônio Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.


domingo, junho 27, 2004

Public House 

Boletim das Terras da Rainha

Como poderia fazer um relato de Londres sem ao menos mencionar os pubs? Se tem algo que combine com o inglês isso é o pub!

Aqui nas terras da rainha há muitos, mas muitos pubs. Estes não são como a maioria dos "sujinhos", os butiquins em que se bebe e come à preços honestos, onde o dono do estabelecimento fica atrás do balcão ouvindo AM, servindo o freguês e preparando o especial da casa.

Os butecos ingleses são uma extensão do estilo arquitetônico londrino, um charme só!



Originalmente os pubs além de servir comida e bebida ainda ofereciam quartos para passar a noite e pátios para as carruagens. Alguns pubs ainda preservam essa tradição, mantendo uma hospedaria, como o The Windmill on the Common, o primeiro em que bebi.

Outra tradição são as placas das entradas que desde 1393 passaram a compor o ambiente dos pubs por determinação do rei Ricardo II. A medida veio em função do elevado número de analfabetos dentre a população, assim, o nome do estabelecimento deveria ser facilmente retratado.

Assim como o chá com leite ou limão a cerveja é a bebida nacional dos ingleses. A variedade de tipos é imensa, há desde lager (leve), bitter (amarga) à stout (forte).

Aqui nas terras da rainha pode-se pedir por um pint, medida que equivale a 0,57 litros de cerveja ou ainda por aquelas engarrafadas com as seguintes variedades, light ale, pale, brown, old e barley wine, todas sem gás e servidas na temperatura ambiente.

Aos que apreciam algo mais leve há a shandy, mistura de chope ou lager com soda. Para quem não bebe cerveja as opções são a cidra, tradicional bebida inglesa produzida com maçã e o gim ou ainda, as bebidas de inverno, o vinho quente e os toddies, feito de conhaque ou uísque com água quente e açúcar.

Para acompanhar tudo isso só mesmo fazendo alguma refeição. Os pratos tradicionais dos pubs são o ploughman's lunch (pão crocante, queijo e picles doces) e o shepherd's pie (carne ovina moída, legumes e cobertura de purê de batatas).

Outra tradição local são as casas de Fish and Chips que servem o peixe empanado (linguado, raia ou bacalhau) acompanhado de de batatas fritas, sal, vinagre, pão e picles de cebola.

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